O Riquinho Pobrinho
· Domingos Kambunji
Confirma-se, o Riquinho é muito pobrinho, de tal maneira pobrinho que
chega ao cúmulo de autoproclamar-se como um herói, propor o José Eduardo dos
Santos para o Prémio Nobel da Paz, e confundir crescimento com desenvolvimento
global harmonioso sustentado. É
perfeitamente natural que isso aconteça na actual cultura imposta em Angola,
onde muitas das necessidades básicas da população são vistas, por muitos, como
utopias, quimeras ou simplesmente como ostentação.
O Nelo de Carvalho retrata o Riquinho, bastante pobrinho, com um rosto
característico da oligarquia reinante em Angola. Talvez peque por defeito porque os “monstros”
tem traços fisio-económicos muito mais assustadores do que o Riquinho. Olhe-se
para o José Ribeiro e o Manaças do Jornal de Angola, o Kundi Paihama, o
Kangamba, o Kopelica, o cinismo do José Eduardo dos Santos, o bom aspecto da
Isabel, com muito “papel” desviado de
Angola e escondido ou investido no estrangeiro, os muitos Ministros sinistros,
etc, etc, etc. Olhe-se para as campanhas eleitorais em que, para a conquista de
votos, oferece-se roupa usada, cerveja e garrafões de vinho tinto, bicicletas,
notas de cem dólares, motorizadas e automóveis. Olhe-se para os concursos de
misses num país onde a mortalidade materno-infantil é assustadora. Assim
poderemos aperceber-nos do sucesso do Riquinho, num país tão pobrinho apesar de
possuir elevadas receitas da exploração dos recursos naturais. Talvez estejam aí
algumas das razões que expliquem as vitórias com mais de setenta por cento e os
motivos para o Riquinho poder autoproclamar-se herói nacional. “Em terra de cegos quem tem olho é rei” e os
piores problemas de cegueira acontecem com aqueles que, apesar de não estarem
limitados no sentido da visão, não querem ver.
OK, vamos ser cínicos, como o José Eduardo dos Santos, só para deixar o
Nelo de Carvalho KO: O Riquinho é um herói em Angola, o José Eduardo dos Santos
merece o Prémio Nobel da Paz e o Gandi, o Martin Luher King, a Madre Teresa de
Calcutá, o Nelson Mandela e muitíssimos outros líderes mundiais e cidadãos
anónimos no bem fazer em vários países, incluindo em Angola, são uns grandes
vilões.
Esta homenagem cínica ao Riquinho, um dos elementos que alicerçam a
Republicana-Monarquia de Angola, explica o conformismo perante as votações,
reais ou fabricadas, dos setenta e tal por cento no último acto eleitoral. Na
verdade os Riquinhos de Angola, queremos dizer os “novos ricos de Angola”,
utilizam frequentemente os índices de crescimento verificados no país para
confundi-los com um desenvolvimento harmonioso da sociedade. Muitas pessoas sabem que muitas vezes não
existe um paralelo ente estas duas evoluções.
Muitos países construíram enormes auto-estradas e outras
infra-estruturas físicas e obras de arte grandiosas, muito superiores às que se
edificam actualmente em Angola, e
esqueceram-se de muitas das suas populações, encontrando-se quase em falência
económico-social. Podem-se construir
muitas cidades do Caramba, perdão do Kilamba, que não resolverão a crise da
habitação enquanto os musseques e as “Sanzalas do Abandono” continuarem a
crescer. Tudo o que nasce neste tipo de
cultura desagua em desequilíbrios sociais que inibem os desafios construtivos
que o dia-a-dia coloca à inteligência humana para uma modernização coerente,
justa.
O Nelo de Carvalho, por mais argumentos convincentes que apresente, não
vai conseguir convencer o Riquinho de que ele não é um herói e educar algumas
mentalidades angolanas que acreditam que
o José Eduardo dos Santos merece o Prémio Nobel da Paz, porque essas pessoas não
conseguem avistar para além das avenidas principais, demasiado
marginais.
Quando a guerra terminou, oficialmente, o José Eduardo dos Santos trocou
de ideologia. Da próxima vez que isso
acontecer os Josés Eduardos dos Santos vão necessitar do apoio de mais muitos
Riquinhos para darem música à população e, talvez, para defenderem uma paz do
tipo Coreia do Norte, bastante semelhante à que existe neste momento em Angola,
com atropelos à dignidade humana muito parecidos mas mais limitada na
corrupção.
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