A
Criança de Malange
·
António
Kaquarta
O
rio beiro recorda, com bastante tristeza, a imagem de um pai entregando uma criança à
custódia de um piloto da TAAG, para que, ao menos esta, não fosse trespassada
pelas balas cruzadas entre o MPLA, o movimento que iniciou a guerra civil em
Angola, obsecado pelo poder ditatorial totalitário, e um outro movimento da
oposição.
No
que concerne aos direitos das crianças, o rio beiro não se lembra dos meninos e
meninas de rua, numa situação miserável, que viu hoje, ontem, no mês passado e
nos últimos quarenta anos, vagueando, com fome, pelas artérias da cidade de
Luanda e no resto de Angola. O rio beiro
não se recorda de ter visto crianças, adolescentes, jovens adultos, e pais e
mães de crianças, adolescentes e jovens adultos a serem espancados pela
cangaceira polícia do Reigime, por estarem a tentar vender aos transeuntes
produtos de pequena ou nenhuma necessidade, a única forma que encontraram para
ganharem alguns, muito poucos, kwanzas, que não os afastam da miséria vergonhosa
em que vivem milhões de angolanos.
O
rio beiro não se recorda dos espancamentos e roubos efectuados pela polícia
cangaceira do Reigime, a mando dum Governador Provincial, sobre as zungueiras,
mães de crianças angolanas. [Mais tarde o Zédu, que é o dono de todos os
Governadores, deu numa de humanismo e ordenou que parassem com os roubos e
espancamentos das pobres mulheres, mães de crianças de tenra
idade.]
O
rio beiro não se recorda de que os soviéticubanos aviões do MPLA bombardearam
escolas, missões religiosas, aldeias e cidades e mataram crianças, adolescentes,
adultos e cidadãos de avançada idade. [É de notar que a avançada idade desses angolanos, durante a
guerra civil e ainda agora, em países civilizados corresponderia a uma idade
adulta. Em Angola é considerada avançada idade devido à reduzida expectativa de
vida desses cidadãos, que não vão aos médicos de Barcelona nem parem filhos em
Londres.]
Esses
cidadãos, vítimas dos ataques das FAPLA não tiveram tempo nem qualquer
possibilidade de serem confiados à guarda de um altruísta e humanista piloto da
TAAG, já que o Agostinho Neto, o Zédu e outros Senhores da Guerra jamais se
preocuparam com a sua segurança, por estarem demasiado envolvidos e
comprometidos com as artes de matar seres humanos, com o objectivo de
conquistarem o poder absoluto a todo o custo. O MPLA venceu a guerra porque
consegiu matar muito mais pessoas.
O
rio beiro não se recorda dos órfãos das vítimas por fuzilamento nos
acontecimentos do 27 de Maio. Ele não se lembra das crianças que ficaram orfãs
só porque os pais e mães ousaram por o
pé dentro do perímetro de segurança do Palácio Feudal ou daqueles que
acreditaram e tentaram lutar para que em Angola existisse uma Democracia e
respeito pelos Direitos Humanos.
O
rio beiro não se lembra dos milhares de crianças que morrem e morrem nos
primeiros anos da infância por má nutrição e falta de assistência médica, porque a prioridade do MPLA, depois de ter
sido o iniciador da guerra civil para impor um Reigime Feudal, depois de vencer
a tal batalha do Kuito-Carnaval, é agora a de transformar os herdeiros do Zédu e
os seus principais generais em multimilionários e, sempre que possivel, em
bilionários.
Há
alguns dias surgiu a notícia de que no Huambo existe um rácio de um médico para
dezasseis mil doentes. O rio beiro
talvez venha brevemente, desmentir essa informação e apresentar a sua versão:
“Graças à inteligência e à chefia do Zédu, o Huambo e as restantes províncias de
Angola têm um rácio de dezasseis mil médicos para cada doente.”
Para
quem reportou de que as estradas do Kuando Kubango são as melhores e mais
seguras a nível mundial, não é de admirar que venha brevemente defender que o
sistema de saúde angolano e a qualidade de vida em geral, graças à inteligência
e chefia do Zédu, são superiores às da Alemanha, Canadá, Suécia, Inglaterra,
França, Estados Unidos, Dinamarca, Suiça, etc.
A
criança de Malange não percebeu porque o pai lhe negava o colo. Muitíssimas
crianças de Angola ainda hoje não percebem porque o Arquitecto do Pus lhes nega
o pão e à paz, a democracia, a dignidade e a justiça social, o direito de serem
crianças.
O
rio beiro não percebe que ao escrever, para tentar branquear as actividades dos
seus Senhores da Guerra, as pessoas conseguem observar que ele tem os cascos
anteriores encardidos por ser cúmplice do sangue derramado por muitíssimos
milhares de angolanos. O rio beiro já não consegue esconder os crimes do
Movimento Protector dos Larápios de Angola por baixo dos tapetes da hipócisia e
da demagogia, apesar de tanto se esforçar a cosmetizar a monstruosidade desumana
onde é militante e mercenário, em simultâneo.
Existe
uma certeza: essa criança, entregue aos cuidados do piloto da TAAG, não se chama
Isabel, não foi adoptada pelo Zédu, nunca foi empresária de ovos de jacaré e não
é a quase tetrabilionária.
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