Uma estrada para o
paraíso do Rei Leão
A profecia (ou visão) do Pepetela, durante o período do muito violento e prolongado
sono, sobre a Víbora de Cabeça ao Contrário, confirmou-se e foi muito para além
do previsto inicialmente pelo escriba do Reigime. Ele pecou por defeito na
análise acerca do estado de saúde mental
do Rei Leão.
A Víbora de Cabeça ao Contrário, com o dom a ubiquidade e da transmutação,
também é o Rei Leão, regente da selva,
com uma mania congénita para a ostentação e para o gamanço, (tratável pela
psiquiatria nos países que o Rio Beiro define como decadentes, devido à bolha),
agravada pela bajulação, contínua e muito activa, com a cabeça em rotações que
vão da esquerda para a direita, para cima e para baixo, para a frente e para
trás, parecendo uma agulha tonta, de uma bússola, a apontar para os lados de
Pequim e de Moscovo e, sobretudo para os paraísos fiscais.
A víbora de cabeça ao contrário por vezes mascara-se de general ou de
herdeira ou herdeiro para deslocar-se a países onde esconde ou investe, egoisticamente,
os recursos que deveriam ser repartidos por todas as populações do ecossistema,
que ela diz estar a gerir de uma maneira justa e equilibrada, objectivando
modernização e o desenvolvimento. Os movimentos da cabeça da Víbora de Cabeça
ao Contrário são tantos e tais que muitos chegam a acreditar de que ela é multi-céfala
e, por isso, é muito temida.
A Víbora de Cabeça ao Contrário, que também é o Rei Leão, é observada como
víbora, venenosa, por muitíssimas pessoas.
O Bolha do pasquim oficial não consegue ver esse animal rastejante, com
movimentos muito sinuosos para amansar, capturar ou eliminar as suas presas. Este
jornamentirista demonstra problemas de visão e de percepção muito graves e
revela-se temente e uma presa fácil para o Rei Leão, a Víbora de Cabeça ao Contrário.
O Bolha foi ao Kuando-Kubango, “pela primeira vez, na década de 80” para
efectuar uma daquelas observações tendenciosas que aplaudem os que durante a “guerra
no auge” vencem por matarem mais. Nessa ocasião, diz ele, passou fome a
partilhar algumas latas de conservas. Isso aconteceu no tempo em que os que
passavam fome a partilhar lagostas e as receitas do petróleo, em Luanda,
lutavam carniceiramente para defenderem os interesses das víboras da terra do
caviar e do vodka, em declineo.
O Bolha dormiu numa casa “arruinada, sem tecto. Choveu toda a noite. De
madrugada alguém gritou que estava uma cobra naquela ruína. Saíram todos para a
rua. Feita a inspecção detalhada, nada encontraram”. Estas inspecções são frequentes no Reigime e
nunca conseguem incriminar a Cobra de Cabeça ao Contrário, o Rei Leão, porque
esta tem o poder de hipnotizar e
intimidar os seus servidores e capangas, com um domado ou reduzido coeficiente
de inteligência. O Bolha, nessa ocasião,
resolveu regressar à ruína, continuou a dormir e, crê-se, para nunca mais
acordar. Ele parece estar muito
satisfeito por continuar a ressonar na ruína.
Agora, com o sonambulismo que o caracteriza, o Bolha resolveu regressar
para observar as grandes realizações do Rei Leão, a Cobra de Cabeça ao
Contrário, no Kuando-Kubango. Não viu
uma Cidade do Caramba, perdão, do Kilamba, mas teve a oportunidade de
vislumbrar muitas miragens.
A estrada “é a mais segura do mundo” porque”o trânsito é pouco intenso”.
Os países que o Bolha diz estarem em
desintegração, em depressão, por causa da bolha, são uns grandes pancos. Eles
andaram a construir auto-estradas, muito largas e compridas” que são usadas por
um grande volume de trânsito. Cambada de
atrasados. “A melhor e mais segura estrada de Angola”, de acordo com as
paLarvas do Bolha, é a estrada mais bem planeada de toda a humanidade. Os
países atacados pela bolha deveriam seguir os ensinamentos do Bolha, Eles deveriam planear e construir as enormes
auto-estradas, muito largas e compridas, e proibir a circulação do trânsito,
para poderem competir com a “melhor e mais segura estrada de Angola” e “a estrada mais segura do mundo.
Os restantes países africanos podem dar ordens aos seus agricultores para
enterrarem as enxadas e devolverem os tractores, as sementes e os adubos à
origem De acordo com os pensamentos e as
paLarvas do Bolha, o Kuando-Kubango, região que os colonos designavam por
Terras do Fim do Mundo, com “um sol abrasador durante o dia e frio cortante de
noite”, com vias de acesso abertas no
tempo do colonialismo “com o passar dos carregadores e das viaturas nos
areais”, pode “ser o celeiro de Angola e de toda a África”. Os especialistas em
Agronomia da Rússia, do Canadá, da Austrália, da Argentina, do Brasil, da
Holanda, da Alemanha, dos Estados Unidos da América do Norte, entre outros
grandes produtores de cereais, não sabem que as condições edafo-climáticas
referidas pelo Bolha permitem ao
Kuando-Kubango ocupar o primeiro lugar na forte competição das melhores
produtividades em culturas arvenses. Cambada de ignorantes porque não
frequentaram a Universidade do Comité Central do MPLA e nada sabem de
Ingricultura.
O Rei Leão, a Cobra de Cabeça ao Contrário, está doente. Os ensinamentos
aprendidos no Feiticeiro de Oz dizem-nos que o Rei Leão, tal como o Feiticeiro
de Oz, é um grande cobardolas e impõe-se pela violência, intimidação e
ostentação, não pelo exemplo, respeito, valores humanos, simplicidade e
honestidade. Os que forem capazes de o enfrentar conseguem verificar que ele é
megalómano mas muito inseguro e acha anormal não ser temido pela sua doentia propensão
para a violência e pelo culto da paranóia.
Quanto ao Bolha, coitado do pobre de espírito, vive no paraíso, muito
feliz com as suas visões delirantes, num sonambulismo militante crónico.
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